sábado, 2 de abril de 2011


A humildade e a paz


Não te preocupes muito em saber quem é por ti ou contra ti; mas deseja e procura que Deus te ajude em tudo que fizeres. Tem boa consciência e Deus será tua boa defesa. A quem Deus quiser ajudar, nenhum mal poderá prejudicar. Se souberes calar e sofrer, verás certamente o auxílio do Senhor.


Ele sabe o tempo e o modo de te libertar; portanto, entrega-te a ele inteiramente. A Deus pertence aliviar-nos e tirar-nos de toda confusão. Às vezes é muito útil, para guardar maior humildade, que os outros conheçam e repreendam nossos defeitos. Quando o homem, por causa de seus defeitos, se humilha, então facilmente acalma os outros, e desarma os que estão irados contra ele.


O humilde, Deus protege e livra; ao humilde ama e consola. Ao homem humilde se inclina; ao humilde dá-lhe abundantes graças, e depois de seu abaixamento eleva-o a grande honra. Ao humilde, revela seus segredos, e com doçura o atrai a si e convida. O humilde, depois de receber uma afronta, conserva sua paz: porque confia em Deus e não no mundo.


Não julgues que fizeste algum progresso se não te consideras inferior a todos. conserva-te em paz; depois poderás pacificar os outros.O homem pacífico é mais útil do que o letrado. O homem dominado pelas paixões, até o bem converte em mal e acredita facilmente no mal. O homem bom e pacífico tudo converte em bem. Quem está em boa paz não suspeita mal de ninguém.


Mas quem é descontente e inquieto, com diversas suspeitas se atormenta: não tem sossego nem deixa os outros sossegar. Diz muitas vezes o que não devia; e deixa de fazer o que mais lhe conviria. Preocupa-se com as obrigações alheias e descuida-se das próprias.


Zela, portanto, primeiro por ti mesmo, e depois poderás zelar devidamente por teu próximo. Bem sabes desculpar e disfarçar tuas faltas, mas não queres aceitar as desculpas dos outros. Seria mais justo acusares a ti e desculpares teu irmão. Se queres que te suportem, suporta também os outros.


* Do livro “Imitação de Cristo” (Lib. 2, cap. 2-3) (Séc. XV)